Salas,muitas salas vazias. Desocupadas das meninas que nelas haviam vivido diferentes realidades: primeiro, repressão, a disciplinação para meninas consideradas infratoras, numa história que parece ter se perdido nos arquivos da história recente. Depois, salas que proporcionaram um teto e escola aos órfãos. O Lar de Meninas, o internato. Realidades vinculadas à tristeza da falta, da ausência. E, nessas condições, salas que germinavam uma idéia, um sonho, uma utopia: Educação e liberdade.


Salas vazias.
E nesta cidade de Curitiba, uma região carente de salas que se pudessem encher dos risos e esperanças de adolescentes e jovens em busca de escola.
Início de 1993.
Um prédio semi-abandonado, a tarefa de implantar uma escola e duas jovens professoras que se perguntavam: como é que se faz isto?
Isto se faz!
Márcia Requião, Elizabete dos Santos e a manhã de juventude: uma escola que começava a crescer para as colheitas que virão.
1993 – Ano da implantação
Faltam carteiras - onde?
Livros para a Biblioteca – onde?
Documentação – Como?
Professores – Quais, onde?
APM – como?
Enfim, as matrículas se efetivam, as aulas começam, a semente germina e rompe a superfície rumo ao sol: Colégio Estadual Unidade Social Yvone Lunardeli Pimentel.
As primeiras aulas.
As primeiras lutas: passe escolar. Professores solidários aos alunos, na busca pelos direitos daqueles que estudam. A atitude traz a público aspectos da cidadania que se busca construir nas salas de aula. O Colégio começa a mostrar seu perfil:
Durante este primeiro ano discute-se, nas instâncias do Colégio, o Regimento Escolar. A construção coletiva da escola começa a definir-se.
O ano transcorre e 1994 anuncia-se:
Em 94, a escola continua a lapidar seu perfil. Constitui-se o Conselho Escolar. A APMF já está funcionando desde 93. A comunidade encontra seu caminho de participação. O grupo de professores envolve-se e mobiliza os alunos, para constituírem o grêmio Estudantil, denominado “Ernesto Che Guevara”: jovens e adolescentes aprendendo a ter e a ser representação de classe:
No início do ano, a primeira diretora, uma das jovens responsáveis pela implantação do Colégio, a professora Márcia Requião despede-se do Colégio para acompanhar seu marido, Maurício Requião, em Brasília. A professora Elizabete, até então vice-diretora, assume a direção geral e convida o professor John Kennedy Gaspar de Abreu para ser diretor auxiliar.
Em 94 realiza-se a primeira Mostra Cultural, com os trabalhos de alunos e professores sendo mostrados à comunidade escolar.
Destes tempos primeiros, há vozes ainda presentes e marcantes, que continuam conosco. Uma destas vozes nos falará, agora, do significado desta construção que se vem efetivando há dez anos. Professor Francisco Manoel de Assis França - o Kico.
1995 – Este foi um ano que deixou marcas. O Colégio muda de nome.
Talvez nem se devesse dizer “muda de nome”. Melhor: o Colégio encontra seu nome. Aquele que germinava desde a implantação, ou desde os sonhos das meninas que habitaram estas salas: Colégio Estadual Paulo Leminski. Nome de poeta que mexeu com uma cidade, que militou, provocou, que não deixou ninguém indiferente. Nome escolhido pela maioria dos professores e alunos. E, com certeza, muito de Leminski no cotidiano de nossa escola:
Nesse ano, alunos, professores e equipe pedagógica uniram-se em torno do tema Avaliação, buscando pensar e construir coletivamente o processo de avaliação do colégio, descobrindo que pensar a Avaliação significa refletir sobre a razão de ser da Escola:

Em 1995, mais uma luta ― pela manutenção ― para que o Colégio Paulo Leminski não tivesse que ceder lugar para um alojamento de atletas de uma possível Vila Olímpica. O espaço do Colégio era, de direito, da comunidade. E a comunidade, organizada e unida, levou seu protesto contra aqueles que queriam este espaço para privilégio de poucos. Só que as nossas árvores já tinham comprometido sua sombra com nossos adolescentes e jovens alunos:
Em 1996 iniciaram-se as reuniões por área de conhecimento, entre professores e equipe pedagógica. Na eleição para diretores realizada nesse ano, a professora Elizabete dos Santos foi eleita, convidando para a direção auxiliar as professoras Aldemara Pereira de Mello e Agnes Cordeiro de Carvalho.
No Ensino Fundamental a comunidade escolar discutiu a questão disciplinar e no Ensino Médio o debate foi dirigido para se tentar compreender a evasão do turno da noite.
Este ano, entretanto, foi marcado pelo início de mais uma ― senão a maior ― das lutas que o colégio Paulo Leminski enfrentou: a manutenção do Curso de Magistério, quando a Secretaria de Educação daquele governo propôs a cessação deste curso em todo o Paraná, dentro do programa chamado PROEM –programa de expansão e melhoria do ensino médio.
Toda a comunidade escolar envolveu-se na resistência, pela manutenção do Curso. O Colégio Paulo Leminski é, hoje, a única escola pública da cidade de Curitiba a oferecer o curso. O reconhecimento do curso Normal, em data recente, pelo Ministro da Educação Cristovam Buarque, o convite para integrarmos a comissão que está reformulando o Curso Normal no Estado do Paraná e o 1º Encontro para Reformulação do Currículo do Curso Normal, organizado e sediado pelo Colégio Estadual Paulo Leminski, nos fez sentir que a luta não foi vã:
1997 pode ser lembrado como o ano da resistência. Sustentado pela gestão democrática, uma APMF organizada, o Conselho Escolar atuante e pelo teor da Lei de Diretrizes e Bases, o Colégio abriu matrícula para a 1ª série do curso de Magistério e, em meados do ano, participando de seminário promovido pela Secretaria de Educação, a direção assume publicamente a oposição do Colégio ao PROEM, por considera-lo um programa seletivo e excludente, no que diz respeito à profissionalização.
A semana pedagógica de 97 orienta-se para uma reflexão sobre o perfil do aluno adolescente. O trabalho pedagógico precisa responder às expectativas daqueles que são a sua razão de ser. E para compreender a escola, é preciso compreender o adolescente:
1998 – A escola inicia o ano com 5 novas salas, reformadas no famoso Bloco Desativado, objeto de um projeto de ocupação e solicitações incessantes de reforma, prometidas mas nunca viabilizadas durante a gestão anterior da Secretaria de Educação.Hoje, a reforma está em vias de começar, e o ano de 2004 verá o sonho concretizar-se.
Mas, em 98, havia demanda de matrículas para crianças de 5ª série, da região do Bairro Alto, e a escola fez a reforma das cinco novas salas.
Nesse ano houve eleição para diretores. A direção geral foi reeleita, e o quadro ficou assim formado: Professora Elizabete na direção geral, professores Jairo Marçal, Aldemara Pereira de Mello e Agnes Cordeiro de Carvalho como diretores auxiliares.
O corpo docente e Equipe Pedagógica envolveram-se na discussão e elaboração da nova proposta pedagógica para o Ensino Médio, a partir das diretrizes curriculares definidas pelo MEC. Concretizou-se o nosso Projeto Político Pedagógico, revisado em 2003 e aprovado pelo NRE em parecer de agosto deste ano.
Em 98 a Mostra Cultural passou a ter tema gerador e o primeiro destes temas foi a Globalização, constituindo-se num desafio para professores e alunos:

Ainda em 98, o Colégio Paulo Leminski com sua APMF e seu Conselho Escolar tiveram que se mobilizar para angariar recursos, uma vez que o Colégio deixa de receber da mantenedora as verbas que passariam a ser destinadas somente às escolas que aderiram ao PROEM. Estas verbas deveriam ser direcionadas à Biblioteca, informatização da escola e reformas:
Em 1999 o curso de Habilitação ao Magistério passa a ter o respaldo do Conselho Estadual de Educação do Paraná.
Todo o colégio estava voltado para a implantação da nova proposta para o Ensino Médio.Continuavam as reuniões por área do conhecimento e a Mostra Cultural teve como tema gerador “A Cidade”:

O ano 2000 chega. Fim de século, fim de milênio, expectativas, esperanças, uma escola trabalhando para construir uma Educação Pública de qualidade. No caminho desta busca, a greve de 19 dias, que uniu a comunidade escolar na mesma luta: melhores condições de trabalho, hora-atividade, assistência à saúde e melhores salários.
E na volta ao trabalho, entre reposições de aulas e o desgaste natural do movimento, a realização da Mostra Cultural com a “Retrospectiva do século XX”:
Em dezembro deste ano a SEED determina um processo de eleição de diretores, através de um colegiado, para um mandato provisório de 6 meses. A direção geral, a cargo da professora Elizabete foi mantida pela unanimidade dos votos deste colegiado.
Destes tempos de luta mais acirrada, de consolidação da nossa identidade, lembramos bem, todos os que estávamos aqui. Aqueles que estavam desde o início, e os que foram chegando... e se envolvendo... como a professora Gisele e o professor Edson
O ano de 2001, cuja Mostra Cultural foi realizada com o tema “Perspectivas para o século XXI”, ficou marcado pela eleição de diretores e pelo decreto 4313/01que comprometeu seriamente a condição democrática desta eleição. Apesar disso, obedeceram-se às exigências ― mesmo as mais absurdas ― a professora Mary Lane Hutner, tendo como auxiliares as professoras Alayde Digiovanni e Célia Luzzi, foi eleita com a maioria absoluta dos votos em todos os segmentos votantes e com uma presença da comunidade que veio comprovar o valor da participação e da construção coletiva da escola que sempre norteou nosso trabalho.
Sobre isto, de ter estado desde o início trabalhando na construção deste Colégio, e assumir a direção geral após 8 anos de trabalho e sonho, a palavra da professora Mary.
Em 2002, a Secretaria de Educação apresentou ao Colégio a proposta de ocupação do Bloco Desativado para atividades de educação Inclusiva, com a implantação de um Centro de Atendimento Especializado para Condutas Típicas. Na ocasião a direção convidou a Professora Maria de Lourdes Canziani, autoridade mundial em Inclusão, para ministrar palestra sobre o assunto, ocasião em que se evidenciou que a proposta da Secretaria de então não contemplava os princípios da Educação Inclusiva. Diante disto a comunidade mostrou-se,mais uma vez forte e unida, mobilizando-se para garantir que o Colégio mantivesse seu carisma de Educação Regular, sem fechar as portas para a Inclusão.
Nesse ano houve a renovação do Conselho Escolar, a reformulação das grades curriculares e revisão do Regimento Escolar, aprovado em parecer de maio de 2003.
Houve durante todo o ano reuniões com professores para a revisão do Projeto Político Pedagógico reflexões sobre a Avaliação.
A parceria com as instituições de ensino superior, marcadamente a UFPR, consolida-se e realizam-se grupos de estudo e palestras para nosso corpo docente com os professores Carlos Vianna, discutindo a educação matemática e Gilberto de Castro e Altair Pivovar discutindo linguagem.
Foram desenvolvidos projetos, orientados por nossos professores, e que visavam contribuir com a formação de nossos adolescentes: Projeto Hip Hop e Grafite, Literatura e Folclore.
A Mostra Cultural de 2002 teve como tema gerador “Humana Gente ↔ Tempo de Contrastes” , tema sugerido pelos professores Navarro, de Língua Portuguesa e Juraci, de História:
Durante todos estes anos, há pessoas que estiveram sempre presentes, garantindo a infraestrutura de nosso trabalho: os funcionários dos serviços gerais e administrativos. Em nome deles, convidamos o Sr. Pedro, para trazer a voz dos que garantem o trabalho nas salas de aula, com o seu trabalho fora delas.
E chegamos a 2003.
Desde o final do ano passado, vivemos a expectativa de tempos melhores.
Há professores novos, que chegaram e encontraram uma escola que continua a busca pela educação sempre melhor, pela construção coletiva. Professores novos na idade, nos sonhos que vêm acrescentar aos nossos. Entre eles, a professora Cláudia e a professora Virgínia.
Há alunos nossos que estão, hoje, relendo Paulo Leminski, letra e música.
2003 - 10 anos de Colégio Estadual Paulo Leminski:
E por que caminhos tem andado uma escola com nome de poeta?
Foi sobre estes caminhos que tentamos falar, hoje, para vocês.
Falar da história que a maioria de nós construímos juntos.
Falar da utopia que nos impeliu a caminhar nosso caminho.
Falar dos passos que caminhamos juntos, e lembrar, resgatar na saudade o trabalho construído.
E chegamos ao fim desta fala: